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Foto do escritorBruno Fernandes

Entrevista ao Presidente do Município de Faro

No âmbito das disciplinas de Geografia e de Espanhol, os alunos da turma 11ºF e alguns alunos das turmas B e E, visitaram, no passado dia 13 de março, o centro histórico de Faro. Durante a visita tivemos um guia que nos foi contando a história da cidade, desde o seu nascimento até à atualidade.

No final da visita fomos recebidos pelo senhor presidente da Câmara de Faro que, amavelmente acedeu a responder a algumas das nossas perguntas sobre o “25 de abril”. Queríamos saber a sua experiência enquanto jovem no dia 25 de abril de 1974 e enquanto presidente da Câmara em 2024.

 

Recorda-se do dia 25 de abril de 1974? Onde estava? Como passou esse dia?

No dia 25 de abril de 1974, de manhã, estava na escola básica D. Afonso III. Frequentava o que hoje é o vosso 6ºano de escolaridade. Na altura tinha 12 anos e só à hora de almoço percebi que algo se estava a passar no país. Sentia no ar alguma angústia e receio dos mais velhos devido à falta de informações que, na época, chegavam via rádio, pois era a única fonte de informações. Ouvia algumas notícias, mas não tinha a completa noção do que se passava.

 

Como era ser estudante antes do “25 de abril”? Notou alguma mudança após a revolução?

As coisas mudaram muito: os manuais escolares, as matérias, as disciplinas, o tempo na escola (...), são tudo aspetos que se alteraram com a Revolução dos Cravos. Mas a maior diferença entre o ensino antes e depois do “25 de abril” é, sem dúvida, o acesso, tanto para homens como para mulheres, que no caso das mulheres, antes do “25 de abril”, era ainda pior.

Na atualidade, todos os jovens até aos 18 anos têm acesso ao ensino. Antes do “25 de abril”, os jovens frequentavam o ensino primário e muito poucos chegavam ao 5º ano (atual 9º ano) e muitos menos ao ensino secundário. Recordo-me de que apenas duas pessoas da minha turma da primária chegaram ao ensino superior.

 

Durante o seu percurso profissional foi professor de Matemática e Diretor da nossa escola. Na sua opinião, quais as grandes transformações que a escola sofreu com a Revolução dos Cravos?

A autonomia da escola foi sem dúvida uma grande transformação. Na atualidade, é a escola que decide qual a carga horária de cada disciplina, mas antes era tudo definido e legislado sem que a escola pudesse escolher. Mais uma vez, o acesso ao ensino foi a grande mudança. O ensino é agora mais democratizado, sendo igual para todos.

 

Uma das principais conquistas do 25 de abril de 1974 foi, sem dúvida, o restabelecimento do poder local. Concorda com esta afirmação? De que forma a qualidade de vida dos cidadãos depende da gestão municipal conduzida por órgãos autárquicos democraticamente eleitos?

O desenvolvimento do país deve-se, em grande parte, ao poder local e às autarquias. O poder local é o responsável pelo acesso das suas populações à água potável, pela recolha de resíduos, pelo saneamento básico (esgotos) e pela distribuição da eletricidade. Em 2020, no primeiro ano da pandemia da COVID-19, foi o poder local que deu resposta à população no dia-a-dia. Durante o confinamento, foram os municípios que, juntamente com outras associações e entidades, levaram medicamentos e comida às pessoas. O poder local, estando mais próximo das pessoas e dos seus problemas, é mais rápido e eficaz a resolvê-los do que a administração central.

 

Tendo em conta os valores da abstenção nas eleições em Portugal corremos o risco de regredir nos direitos e liberdades dos cidadãos? O que se pode fazer para mudar isso?

A abstenção é algo que se deve combater incentivando as pessoas à sua participação cívica, pois é fundamental que a população ajude a decidir o futuro, quer do país, quer da sua autarquia. Infelizmente, acredito que, em futuras eleições, a abstenção vai ser ainda maior devido à situação atual do país. Atualmente, atingimos o direito ao voto aos 18 anos.  Antes do “25 de abril” apenas os homens, com mais de 21 anos, podiam votar. É importante que toda a população vote para que a luta dos portugueses que viveram em ditadura e foram presos e torturados pela polícia política não tenha sido em vão. Enquanto existirem essas recordações nada voltará a ser como era, mas é importante falar-se e estar-se atento a alguns sinais que vão aparecendo.

 

Na sua opinião, o “25 de abril” deve ser comemorado todos os anos como forma de manter a sociedade em alerta para o perigo das ditaduras?

Sim, é fundamental relembrar e comemorar essa data e passar a mensagem de que a liberdade é importante e fundamental.

 

A Câmara de Faro vai promover atividades no âmbito da Comemoração dos 50 anos do 25 de abril de 1974? Quais?

A câmara de Faro, já começou a promover algumas atividades. Há uma comissão, que integra elementos da Assembleia Municipal, que está a organizar, desde 2023, as comemorações do “25 de abril”. Por exemplo, o primeiro evento, foi um espetáculo que decorreu no dia 1 de dezembro 2023 no Conservatório Regional. No dia 24 de abril, à noite, o artista farense Diogo Piçarra, dará um concerto e no próprio 25 de abril, haverá um concerto da Orquestra Clássica do Algarve no Teatro Municipal. Simultaneamente decorrerão algumas exposições e palestras de alguns notáveis que viveram o “25 de abril”, entre outras atividades.

 

A terminar a nossa conversa, o Sr. Presidente reforçou que o “25 de abril”, tal como muitas outras datas, deve ser comemorado por todos, pois foi graças à liberdade conquistada que, entre outras coisas, nos permitiram ter esta conversa franca e descontraída.

Foi uma experiência muito enriquecedora para todos os alunos das turmas envolvidas. Foi uma forma diferente de comemorar e também de aprender.

 

 



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